sábado, 12 de maio de 2012

AS CARTAS NO SÉCULO XX

Com as indústrias de cartas convertidas em fábricas e os mestres deste ofício transformados em trabalhadores industriais, as cartas deixam de ser um instrumento de jogo para converter-se num objeto cuja finalidade são elas mesmas. As fábricas de cartas produzem dois tipos de baralho: por um lado, as cartas destinadas ao jogo, que tem as caras com modelo padrão, já que os jogadores são muito conservadores neste sentido (é mais fácil adotar um novo jogo ou uma variação no jogo do que um novo desenho ou uma mudança nas cartas); por outro lado, estão as cartas criadas para comemorar algum acontecimento (guerra, copas, armistício, feiras, etc), ou para ilustrar algum aspecto das atividades humanas. Estas cartas estão dirigidas aos colecionadores. Mesmo assim, o auge do marketing e as campanhas publicitárias usam as cartas como um dos seus grandes veículos publicitários. Inicialmente as cartas são utilizadas mas, quando os publicitários descobrem que os jogadores não jogam com essas cartas, a publicidade muda para o verso das cartas e as caras continuam inalteradas. Desta maneira são reduzidos os custos de impressão e a publicidade capta os jogadores.
A conversão das fábricas de cartas em indústrias modernas produziu também a sua concentração. Assim, por exemplo, nos Estados Unidos, das duzentas pequenas fábricas de cartas fundadas no século XIX passou-se a para somente cinco em 1969, e que eram: The United States Playing Card Company of Cincinnati, The Arco Playing Card Company of Chicago, Stancraft of St. Paul (Minnesota), Whitman of Racine (Wisconsin) e Kem of Poughkeepsie (Nova York). Atualmente deve ser acrescentada à lista a U.S. Games System.
A primeira das companhias citadas, a The United Playing Card Company, que domina quase dois terços do mercado americano e que tem uma grande participação na espanhola Naipes Fournier, é ao mesmo tempo uma divisão do conglomerado financeiro denominado The Diamond International Corporation de Nova York.
Outro fenômeno global que ocorreu na segunda metade do século XX é o desaparecimento generalizado dos impostos especiais sobre as cartas e das impressões que eram feitas sobre algumas cartas para indicar o pagamento dessas taxas.


OS BARALHOS COMEMORATIVOS


No final do século XIX e princípio do XX, a U.S. Playing Card Company editou um baralho em homenagem aos heróis americanos da guerra de Cuba, conhecida como a Army and Navy Pack. A guerra dos boérs, onde se enfrentaram na África do Sul os colonizadores ingleses contra os alemães e holandeses, foi também objeto de vários baralhos entre os quais se destacam o de C.L. Wust de Frankfurt, celebrando as vitórias boérs sobre os ingleses. Um outro baralho criado por H.M. Guest (proprietário de um jornal local e correspondente da Reuter), na África do Sul, para contrapor a escassez de baralhos motivada pela guerra, foi impresso sobre papel ordinário e possui um caráter completamente artesanal.
As coroações de Eduardo VII, filho da rainha Vitória e, posteriormente, a de seu sucessor Jorge V, serviram para que as companhias inglesas (De la Rue, Waddington, Goodall & Sons) editassem baralhos comemorativos de tais eventos. A abertura da passagem de Yukon no final de 1899 também foi comemorada pela U.S. Playing Cards com um baralho, a White Pass and Yukon Route, que deu início a uma série de baralhos de temas geográficos.
Assim, em 1901, foram editados os de Hawai, Califórnia e as cataratas de Niágara, seguidas por uma produção incessante de cartas geográficas de todas as regiões do planeta.
Na Espanha destacam-se os baralhos taurinos, nos quias são representados os heróis e as figuras dos torneios (ainda que este tipo de baralho já era produzido na segunda metade do século XIX), os de tipos literários com Dom Quixote ou Dom Juan Tenório e os satíricos, muito populares nas duas primeiras décadas do século e que mais tarde foram retomadas pelas revistas de humor (El Papus, El Jueves, entre outras) nos últimos decênios do século. Também foram editados baralhos comemorativos do descobrimento da América e outros importantes acontecimentos históricos.
Uma novidade curiosa na fabricação de cartas é o aparecimento de cartas de formas diferentes (redondas, em zig-zag, etc), ou com os naipes de cores variadas com objetivo de evitar confusões e faltas. Um exemplo destacado é o baralho impresso em Vitória por Hijos de Heráclio Fournier que representa os quatro naipes nas cores preta, verde, vermelha e azul.
A especialidade dos baralhos de tarô de advinhação, que não estão destinados ao jogo, foi especialmente fértil na criação e realização de todo tipo de desenho. É importante destacar como exemplos extremos destas cartas o baralho desenhado por Salvador Dali e o utilizado no filme Viva e Deixe Morrer (1973), protagonizado pelo célebre agente secreto James Bond.





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