domingo, 8 de abril de 2012

REVOLUÇÃO E IMPÉRIO FRANCESES NAS CARTAS

O triunfo da ilustração produziu um anseio de saber que se propagou por todas as classes sociais. Este fato se refletiu na edição de numerosos baralhos educativos no último terço do século XVIII, tanto na França como em outros países europeus aos que chegavam a influência da ilustração. Foram editadas cartas geográficas, da história de Roma, da monarquia francesa e européias, da fauna, alfabéticas, literárias, etc.
A história contemporânea, especialmente a dos difíceis e decisivos anos da Revolução Francesa e o posterior Império de Napoleão, não podia permanecer alheia à febre dos baralhos didáticos.
O primeiro dos baralhos "revolucionários" pretende ilustrar as idéias sobre as que se apoia a Revolução. É o chamado baralho dos filósofos, realizado por Gayant (1793). Neste baralho aparecem filósofos no lugar de reis: virtudes em lugar de damas, como a prudência, a justiça, a moderação e a força; e, finalmente, soldados revolucionários ocupam o lugar dos valetes.
Outro baralho do ano de 1793 foi criado pelo conde de Saint-Simon, nesta época presidente da Comuna de Paris, com o propósito de ensinar ao povo os princípios da Revolução; por isso, nas doze cartas das figuras aparecem representados os atributos da Revolução, repartidos em três grupos (os nomes em letra correspondem aos nomes das cartas, segundo o costume de "batizar" as figuras do baralho francês): gênios (dos comércio, riqueza, paz, prosperidade, guerra, força, artes, gosto), liberdades (dos matrimônio, pudor, profissões, indústria, imprensa, luz, cultos, fraternidade) e igualdades (de cores, valor, categoria, poder, direitos, justiça, deveres, segurança).
Os baralhos editados após a coroação de Napoleão como imperador já não ilustram as idéias, mas as ações. O mais famoso baralho imperial é o das bandeiras (impresso em 1814, na decadência do Império, talvez para lembrar glórias passadas e melhor os ânimos), que consiste de 32 cartas (baralho de belote) distribuídas em quatro naipes, cada um deles em representação de um dos grandes exércitos europeus: francês, inglês, russo e alemão. Em todas as cartas aparecem soldados em ação que içam uma bandeira, na qual aparecem os símbolos da carta de acordo com os do baralho francês. As cartas estão impressas em preto e pintadas à mão.
Por volta de 1815, depois da queda de Napoleão, apareceu o baralho das batalhas do Primeiro Império, que recolhe 32 episódios gloriosos da história napoleônica. São cartas com grande formato; no canto superior esquerdo aparecem os símbolos da carta; nos terços superiores, um grande círculo, que cobre parte dos símbolos no canto da carta, no qual se ilustra um episódio ou uma batalha, com indicação do lugar e a data; as entradas do Imperador em Estraburg, Milão, Munique, etc; as batalhas das pirâmides, da ponte de Arcole, de Wagram, de Jena, etc (não tem nenhuma carta dedicada à Espanha); finalmente na parte baixa da carta aparecem 64 bustos (2 por carta) de mariscais e colaboradores de Napoleão. (Os baralhos napoleônicos não são somente próprios dessa época, já que por exemplo, em 1978 foi impresso um baralho de tarô na Itália no qual os arcanos e as figuras dos naipes foram substituídos por personagens e símbolos napoleônicos; obviamente, o IV é Napoleão, o imperador).
Por outro lado, em Tubinga, Alemanha, se editou em 1815 um baralho antinapoleônico, chamado "os exércitos aliados", que continha 52 cartas pintadas a mão. Os "reis" são quatro generais chefes de seus respectivos exércitos inimigos do imperador: o inglês Wellington, o prussiano Blücher, o austríaco Schwartzemburg e o russo Kutusoff; as "damas" são figuras alegóricas de triunfos e os "valetes", soldados dos quatro exércitos. As demais cartas mostram várias cenas religiosas, mitológicas, históricas e de gênero, no estilo dos baralhos de transformação; os símbolos das cartas aparecem impressos em preto ou vermelho sobre a ilustração.



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