domingo, 8 de abril de 2012

CARTAS ESPANHOLAS DOS SÉCULOS XVI e XVII

Conservam-se poucos exemplos de cartas espanholas anteriores ao século XVIII, apesar de que as cartas já haviam se arraigado nos costumes sociais e o jogo com elas era algo habitual na Espanha do final da Idade Média. Um autor flamengo, Eckloo, conhecido com o nome latinizado de Pascasius Justus, viajou pela Espanha em 1540. No livro que escreveu, intitulado Alea Sive de Curanda Ludendi in Pecuniam Cupiditate, relata que os espanhóis sentiam uma grande paixão pelos jogos de cartas. Havia viajado muitas léguas sem conseguir provisão dos recursos básicos, nem mesmo pão ou vinho, mas em qualquer aldeia, inclusive nas mais recônditas, encontrou cartas e jogadores.
Os fabricantes espanhóis de cartas eram incapazes de atender à grande demanda, não somente nos territórios peninsulares, como também nos crescentes  territórios ultramarinos que iam se incorporando a um império em plena expansão. Sendo assim, desde o século XV, os naiperos franceses de Toulouse, Thiers, Limoges e Ruán eram os que forneciam as cartas aos espanhóis. Inclusive desde Flandes chegavam, por barco, encomendas de cartas para Portugal e Castilha. Existem registros de documentos onde consta que, em 1583, muitos fabricantes de cartas (naiperos) de Lyon emigraram para a Espanha a fim de escapar dos altos impostos que deveriam pagar na França.

OS EXEMPLARES MAIS ANTIGOS

Entre as cartas que se preservaram até os nossos dias, figuram dois calhamaços sem cortar para forrar livros, um impresso em 1495 (cuja capa conserva-se no Instituto Municipal de História de Barcelona) e outro em 1519 (cujo forro, encontra-se no Museu de Arte de  Catalunha). Estas folhas, assim como outros baralhos do século XVI que se conservam mais ou menos completos -como o baralho espanhol de 1490 da coleção Rothschild, do Museu do Louvre, ou o baralho de Juan II de Aragón, do Staatliche Museen de Verlim- mostram características que atualmente se consideram como alheias ao baralho espanhol e que são mais próprios dos baralhos portugueses (sotas femininas e dragões nos ases) italianos (reis sentados) ou alemães (dez com bandeiras). Talvez, devido à origem européia -em especial alemã- dos baralhos destinados à Espanha, cujo estilo ainda não estava claramente definido.
Mesmo que no Museu Fournier de Naipes  de Vitória conservem-se umas cartas datadas de 1570 e descobertas em Palencia, o primeiro baralho, sem dúvida nenhuma de origem espanhola, que chegou aos nossos dias encontra-se no Arquivo de Indias de Sevilha. Trata-se de um baralho de Francisco Flores no qual pode-se ler a incrição "Nova Espanha 1583". Sendo, pelo que parece, um baralho destinado à exportação à América.
No século XVII aparece a figura de Pedro Rotxotxo (o Pere), cuja fábrica se converteria no modelo para as cartas espanholas tanto no que se refere ao seu desenho quanto à sua qualidade. Assim é demonstrado ao se observar as ordens para o estabelecimento da fábrica de cartas de Macharaviaya, nas que se indicavam que devia produzir cartas da mesma qualidade que Rotxotxo. Outro fabricante de cartas destacado da mesma época foi Joan Santillana, de quem se conserva um baralho com a legenda "para Toledo". Geralmente, os baralhos espanhóis dessa época incluem o texto "com licença do Rei Nosso Senhor", assim como uma estrela de seis pontas.


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