domingo, 8 de abril de 2012

AS CARTAS ESPANHOLAS NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XIX

Durante o século XIX vai-se generalizando, progressivamente, o uso das pintas para demonstrar o naipe da carta, que já aparecem em algumas cartas espanholas do século XVI. O mesmo sucede com a utilização dos índices nos cantos das cartas para assinalar o valor da carta, que havia começado a se usar em baralhos dos últimos anos do século anterior.
Ambos símbolos têm o objetivo de facilitar o reconhecimento do naipe aos jogadores e dificultá-los aos espiões, impedindo assim que estes pudessem transmitir essa informação a outros jogadores. Tanto as pintas como os índices ficaram totalmente fixados como parte das cartas espanholas ao longo do século, de maneira que somente as cartas de fantasia não os usavam. É bom recordar que nos baralhos de símbolos franceses não são usados, de maneira geral, até a segunda metade do século XIX.
Sobre os índices, destaca-se o fato de que em todos os baralhos espanhóis as figuras são numeradas com os mesmos índices: sota, 10; cavalo, 11; rei, 12. isto explica que nos baralhos com 40 cartas apareça um salto na sua numeração, passando do 7, no sete, ao 10, na sota.
Outro fato importante para os fabricantes espanhóis de cartas é a Independência do México (1811) e da maioria dos territórios americanos, o que desencadeou o final do monopólio exportador da fábrica de Macharaviaya e a aparição de um importante centro naipero em Cádiz, dedicado especialmente à produção de cartas com destino aos países americanos. Pode-se destacar que os fabricantes de cartas de Cádiz desenvolveram um estilo próprio no desenho das cartas, perpetuado por outros fabricantes de cartas espanhóis como Roura, Comas ou Fournier, por exemplo, em especial para suas exportações à América.
Em 1810, o fabricante de cartas Clemente Roxas, editou um baralho notável, gravado por José Martínez de Castro, que estava excepcionalmente trabalhado com riqueza de detalhes nos cenários de fundo das figuras, ilustrações nos quatros de cada naipe e detalhes como anjos sustentando os ases de espadas e bastões. Este baralho foi reeditado por Fournier para comemorar o sexto centenário (1377-1977) das cartas em Europa. Em 1812, imprimiu-se uma nova edição deste baralho, com os desenhos ligeiramente retocados, já que os anteriores haviam sido considerados pouco discretos para a moralidade da época, particularmente as figuras dos amantes desnudos que se abraçam no quatro de ouros. Estes desenhos foram copiados em meados do século por outros fabricantes de cartas (Manuel Bertchinger e Sebastián Comas, entre outros) e adotados na Cerdenã como seu estilo regional. Ainda são fabricados, apesar de terem suprimido as pintas (conservadas durante muitos anos), sendo modificado o ás de ouros para adaptá-lo ao costume italiano.
No segundo decênio do século XIX, destacava-se um baralho constitucionalista, cujo fim era o de interpretar os princípios e as conquistas da Constituição de Cádiz de 1812. Outro fato notável é a fixação no período de 1830-1850 do modelo catalão das cartas, que acabou se mantendo praticamente sem variações até finais do século XX, ainda que a área de uso das cartas com esse desenho tornou-se cada vez mais restrita. Por outro lado, convém destacar que este modelo de cartas não tem nada que ver com as cartas "catalãs" produzidas na França.



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