domingo, 26 de fevereiro de 2012

OS PRIMEIROS NAIPES NA ITÁLIA



Na cidade italiana de Viterbo conserva-se um livro intitulado Istoria della cittá di Viterbo, escrito por um cronista local conhecido como Covelluzo. Essa obra relata que, em 1379, tropas mercenárias de Clemente VII encontravam-se acampadas em Viterbo, cidade que pilharam incessantemente. A crônica relata outros acontecimentos notáveis e, entre os quais, um de especial relevância no que se refere à história dos naipes: "Naquele ano de tamanhas calamidades, foram introduzidos em Viterbo os jogos de cartas que provinham dos sarracenos, chamado naibi".
Em princípio, essa crônica serviria para elucidar todas as dúvidas sobre a origem dos naipes e a sua introdução na Europa; no entanto, o cronista não apresenta nenhuma prova de suas afirmações. Tampouco encontrou-se nenhuma confirmação desse fato, levando à conclusão de que os naipes eram tão populares em 1480 (ano em que Covelluzo escreveu sua crônica), que o cronista sentiu-se na obrigação de mencionar a sua introdução em Viterbo junto ao relato da violência das tropas dos papas cismáticos. Também se pode deduzir que, já nessa época, a origem dos naipes era discutida e desconhecida.
As mais antigas cartas italianas gravadas que chegaram aos nossos dias são as do denominado Tarot de Mantegna, de meados do século XV. Trata-se de uma série de cartas com fins lucrativos, de grandes dimensões e gravadas sobre um papel muito fino, características que dificultam o seu manuseio para o jogo. Ainda se conservam cinqüenta exemplares e os temas que contêm são fundamentalmente mitológicos ou alegóricos. Possuem a representação de diversos estágios da vida, de musas, das virtudes, dos planetas, das artes liberais e das ciências. Os textos das cartas estão escritos em dialeto veneziano apesar dos desenhos serem de estilo florentino, os quais são atualmente atribuídos aos grandes artistas Botticelli e  Baldini.
Anteriormente, em 1415, outro artista, Marziano de Tartona, que vivia na corte de Felipe Maria Visconti, duque de Milão, pintou uma série de cartas que continham representações de deuses acompanhados de animais. Por esse trabalho, cobrou 1.500 peças de ouro. Comenta-se que o duque costumava jogar com essas cartas pintadas que formavam um baralho de minchiata, ainda conservadas pela família. Esse baralho era uma espécie de tarô de 97 cartas, no qual os trunfos ou tarôs usuais eram acrescidos de outros sem numeração: as virtudes, os elementos e os símbolos do zodíaco. O Delfim da França pagou 15 francos por uma cópia dessas cartas em 1454, do que se deduz que já se tinha idealizado algum procedimento para fabricar cartas.
Nessa época, Francisco Fibbia, príncipe de Pisa, vivia exilado em Bolonha, onde introduziu um novo jogo conhecido como Tarô de Bolonha ou Tarocchini. O baralho utilizado para esse jogo era constituído de apenas 62 cartas: foram eliminadas 16 das 78 cartas dos tarôs usuais, cujo exemplos mais antigos encontram-se em Veneza.
Essas três formas de tarô (florentino de 97 cartas, bolonhês de 62 cartas e veneziano de 78) ainda são comuns na Itália, onde existe um grande número de variações, sobretudo em relação aos desenho e às cores.


AS PARTICULARIDADES DOS BARALHOS ITALIANOS




As cartas italianas diferem das de outros países em vários aspectos. Um deles referem-se às costas das cartas, que em muitas ocasiões ao longo do tempo foram brancas. Usualmente estavam decoradas com motivos florais ou com escudos de armas impressos por xilografia. Em muitos baralhos, o papel das costas é maior que o da cara, ao qual está colado. Essa borda também costuma ser decorada, já que forma parte das costas, e em certas ocasiões apresenta-se dobrada e colada sobre a cara da carta.
Excluindo os arcanos maiores, as cartas do baralho italiano se agrupam em quatro naipes: espadas ou cimitarras, representando a nobreza: copas, que costumam ter a forma de cálices muito elaborados e se referem à Igreja; moedas, em representação dos cidadãos, e bastões que fazem alusão aos camponeses. Nos naipes mais altos (espadas e bastões), os símbolos costumam estar entrelaçados de tal modo que dificultam a leitura do valor da carta.
Os reis dos baralhos italianos sempre aparecem sentados e as figuras dos cavalos e dos cavaleiros adquirem, em certas ocasiões, um aspecto monstruoso.


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