sábado, 18 de fevereiro de 2012

ORIGEM DAS CARTAS



Até hoje não se estabeleceu com precisão a origem das cartas de jogar, apesar dos grandes esforços nesse sentido empreendidos pelos pesquisadores. Determinar a forma e o momento histórico em que se deu o nascimento das cartas tem se mostrado uma tarefa extremamente complexa. No entanto, não deveria ser tão difícil assim encontrar o inventor das cartas e explicar de que forma os jogos com elas praticados foram se transmitindo de um país a outro por todo o mundo. Afinal, elas tem pouco mais de seiscentos anos de existência na Europa - os primeiros testemunhos de cartas européias remontam ao final do século XIV. Ao longo do século seguinte, elas se difundiram pelo continente com enorme velocidade e, surpreendentemente, é possível saber mais sobre essa expansão não pelas cartas em si, mas pelas numerosas proibições que em todo o mundo foram impostas aos jogos de cartas.
Embora não se tenha conseguido até aqui descobrir com precisão como ocorreu essa rápida difusão, conhecem-se alguns fatos por meio das quais se levantaram diversas teorias. Estas acabaram confirmadas ou desmentidas por descobertas posteriores.



O ORIENTE E AS PRIMEIRAS CARTAS



As cartas chegaram à Europa procedentes do Oriente, mas não como objetos tangíveis e, sim, descritas em relatos e textos de diferentes viajantes. Desse modo, expandiu-se pelo continente a idéia desses objetos para o jogo. Esta gerou posteriormente os diversos modelos de baralhos "nacionais".
Dizer que as cartas vieram do Oriente é apenas uma primeira e pouco exata aproximação em relação à origem delas, já que essa afirmação serve apenas para indicar que não são uma criação européia. Ao longo da história da humanidade, cada grupo humano mais ou menos amplo cunhou alguma expressão para designar ou outros grupos humanos diferentes do seu. Para os romanos, por exemplo, todas as tribos situadas a norte e a leste de suas fronteiras eram chamadas de povos bárbaros, ou seja, estrangeiros. O mesmo acontece com a denominação "Oriente": naquela época (final do século XIV, início do século XV), o Oriente compreendia o norte da África, o sul da península Ibérica ocupado pelos árabes, o leste europeu e os países asiáticos compreendidos entre os mares Mediterrâneo e Vermelho e o golfo Pérsico. Também faziam parte do Oriente, como ocorre atualmente, os países situados a leste do Himalaia (Extremo Oriente). Por isso, afirmar que as cartas procederam do Oriente obviamente não resolve o problema da incógnita a respeito de sua origem.




Quanto aos caminhos pelos quais as cartas chegaram à Europa, também eles suscitaram inúmeras teorias. No início, atribuía-se sua introdução na Europa aos árabes, que tantas coisas levaram ao Ocidente. Mas os árabes não possuíam cartas, nem sua religião lhes permitia reproduzir imagens com formas humanas. Na realidade, o único jogo de cartas "árabe" conservado é turco. Também se mencionaram os ciganos e seus baralhos divinatórios, mas quando as grandes migrações ciganas chegaram ao Ocidente fazia tempo que as cartas eram largamente conhecidas na Europa. Atribui-se também a introdução das cartas de jogar no continente europeu a Marco Polo, que as teria trazido da China. Mas parece que Polo nunca chegou de fato à China e que todas as histórias que narrou foram ouvidas por ele no Oriente Médio. Outras teorias atribuem a expansão das cartas no Ocidente às cruzadas e mesmo, durante muito tempo, circularam histórias atribuindo a invenção delas a certos personagens, como Vilhan e Nicolau Papin, que logo se verificaram serem inverídicas.


A SUPOSTA ORIGEM EUROPÉIA DAS CARTAS




Sempre existiu um grande interesse em demonstrar que as cartas de jogar têm origens européias. Sem dúvida, trata-se de um esforço até certo ponto paradoxal, considerando-se que, como em geral se admite, a idéia das cartas procede do Oriente. No entanto, a resposta para esse enigma é bem simples. A maioria das cartas utilizadas atualmente em todo o mundo é de estilo europeu, em termos de concepção e de características - quatro naipes, uma série de cartas numéricas e outra de cartas com figuras -, assim como a maioria dos jogos de cartas (sem esquecer que a maioria dos jogos praticados nas Américas e na Austrália também tem origem européia). As cartas chegadas do Oriente evoluíram na Europa e, a partir desse continente, expandiram-se para todos os cantos do mundo, principalmente por meio dos baralhos espanhol e inglês. Uma mostra dessa influência pode ser observada no Japão, onde foi importante a obra das missões luso-espanholas do século XVI. (Nessa época, Portugal e demais reinos da península Ibérica eram governados pelo mesmo rei, Felipe II. Essa união prolongou-se até meados do século XVII, quando, sob o reinado de Felipe IV, Portugal voltou a separar-se do império espanhol). Lá, as missões  introduziram, entre outros costumes, o jogo de cartas com baralho espanhol, em especial a variante portuguesa. Assim, "carta" tornou-se karuta em japonês; "copas", koppu; "ouros", oru. Na Indonésia, a palavra "carta", transformou-se em Kertu.




Sejam as cartas uma criação européia ou tenham procedido originalmente do Oriente, o que parece certo é que elas iniciaram sua expansão pelo continente europeu a partir da Itália - pelo menos, é desse país que vêm os exemplares e testemunhos mais antigos.
Da Itália as cartas passaram rapidamente, através do sul da França - ou diretamente através do reino de Nápoles, então pertencente à coroa aragonesa -, à Catalunha e ao restante da península Ibérica. Elas também seguiram para o norte, até a França e a Alemanha, dando origem aos baralhos nacionais desses dois países. A partir da França, as cartas passaram à Inglaterra, onde o modelo francês adotaria a forma que atualmente se conhece como baralho inglês. Exceto neste último caso, em que o baralho foi levado fisicamente da França à Inglaterra pelos impressores e gravadores franceses, parece que as cartas de jogar se transmitiram por meio das notícias e descrições dos viajantes que cruzaram a Europa. Isso explica o surgimento dos diversos modelos de baralho europeus.


O QUE É UMA CARTA ?


Um dos principais obstáculos enfrentados pelos estudos a respeito da origem das cartas é a dificuldade em definir claramente o que é uma carta. Já que nem o material de que são feitas (cartão, papel, seda, marfim...), nem a forma (retangular, quadrada, circular, chanfrada, amoedada...), nem o conteúdo (símbolos espanhóis, símbolos franceses, símbolos alemãs, jogos de família, cartas de mah jong, cartas educativas, cartas históricas...), nem os jogos com elas praticados servem como critérios de identificação absolutamente determinantes. Nos principais museus do mundo dedicados às cartas podem ser encontrados exemplos de todos esses tipos, e muitos mais.
Talvez as únicas características comuns a todos eles sejam a extrema delgadeza - o que diferencia as cartas das fichas ou outros objetos utilizados em jogos - e o fato de participarem de um grupo de elementos semelhantes organizado segundo um critério preciso. Em qualquer caso, ambas as características devem estar inseparavelmente unidas no objeto que usualmente denominamos carta.



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